Com o aumento da longevidade no Brasil e o envelhecimento ativo ganhando espaço como pauta essencial de saúde pública, cresce também a necessidade de debater o papel da família no bem envelhecer. Em julho, mês em que se celebra o Dia dos Avós, Dr. Roni Mukamal, médico geriatra e superintendente de Medicina Preventiva da MedSênior — operadora de saúde especializada no atendimento ao público a partir dos 49 anos — propõe uma reflexão sobre a importância do apoio familiar e dos vínculos afetivos no processo de envelhecimento saudável.
“A convivência do idoso com pessoas mais jovens é um pilar para o envelhecimento saudável. Então, sem dúvida, tanto os laços familiares e bons relacionamentos quanto os sentimentos de apoio e pertencimento são fatores de grande importância no processo de bem envelhecer”, diz o especialista.
O cenário inverso, ou seja, quando o idoso não tem esse convívio, pode causar sérios impactos à saúde. “A solidão é um problema sério de saúde pública — não só dos idosos, mas sobretudo — e está associada a uma série de doenças crônicas, mentais e cardiovasculares: depressão, ansiedade, perda de memória, transtorno do sono etc. Então, no caso do idoso que mora sozinho, é fundamental que se tenha um olhar para esse indivíduo. Não é aguardar o idoso entrar em contato esperando que isso aconteça quando ele precisar. Devemos fazer uma vigilância e um monitoramento ativo dessa parcela da população”, completa Mukamal.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua (IBGE, 2022), mais de 70% dos idosos vivem com familiares — um dado que evidencia o protagonismo da família como principal rede de cuidado no país. Com o aumento da expectativa de vida, essa convivência tende, naturalmente, a perdurar por mais tempo. Mas, na prática, quais são os impactos dessa proximidade no dia a dia?
De acordo com Dr. Roni, o envolvimento da família na rotina do idoso é determinante para a manutenção da qualidade de vida, da sociabilidade e das funções cognitivas. Sobre os benefícios práticos do vínculo familiar e o papel da família como suporte emocional e funcional, o médico geriatra afirma: “O ideal é que a família tenha um contato contínuo, de forma proativa, e diário, preferencialmente. Além disso, é importante que se preste atenção à casa onde o idoso vive, porque o espaço físico traz uma série de informações relevantes, como se ele está conseguindo se alimentar com qualidade, de forma equilibrada e suficiente, se está apto ainda a cuidar da casa — o que, às vezes, pode se tornar uma tarefa difícil —, se está comprando e tomando os remédios indicados pelo médico que o acompanha… Então, a principal recomendação é essa: que as famílias fiquem próximas, apoiem e acolham os seus mais velhos.
Essa visão vai ao encontro do que aponta a Organização Mundial da Saúde. Segundo relatório publicado pela OMS em 2025, conexões sociais próximas estão diretamente ligadas à melhora da saúde e à redução do risco de morte precoce, especialmente entre pessoas idosas. A ausência de vínculos afetivos é considerada um fator de risco relevante para o declínio da saúde física e mental.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) também reforça o papel da família como um dos pilares fundamentais do envelhecimento saudável. A entidade aponta que a presença ativa de filhos e netos contribui para a prevenção da solidão, do declínio cognitivo e para a manutenção da autonomia funcional e do bem-estar emocional.
“O idoso que tem a companhia da família e vínculos fortes — não só com filhos, mas também com irmãos, netos etc. — vai envelhecer se sentindo mais protegido, seguro, e vai ter mais força emocional. Isso é determinante para a prevenção de diversas doenças e fontes de sofrimento, principalmente na esfera psíquica”, conclui o Dr. Roni Mukamal.
Exemplo na prática - Um exemplo concreto desse cuidado compartilhado é Dona Natercia Zerboni da Costa, de 88 anos, beneficiária da MedSênior. Lúcida, ativa e ainda bastante independente, é avó de nove netos e foi responsável por criar dois deles - Caterina Zerbone da Costa (25) e Adelson Costa Bourguignon (17) -, que moram com ela até hoje. Atualmente, os papéis se invertem: os netos a acompanham em consultas médicas, ajudam na organização dos medicamentos e estão sempre presentes em sua rotina — uma relação intergeracional que promove segurança, afeto e qualidade de vida para todos os envolvidos.
“Se não fossem meus netos comigo, eu talvez estivesse sozinha. Conviver com eles representa uma infinidade de coisas boas para a minha vida. Sem eles, o rumo da vida seria diferente”, reflete dona Natercia. O neto, por sua vez, retribui o carinho e faz questão de ressaltar a importância da relação com a avó na sua formação. “O que eu admiro nela é o que ela sempre fez por mim, em todos os sentidos, tanto no de cuidado quanto no de ensino. Ela foi a minha escola de caráter, meu alicerce”, afirma Adelson.
Mais do que uma forma de retribuir o carinho e a dedicação recebidos, o cuidado das gerações mais jovens com os avós é uma maneira concreta de manter ativa e saudável uma parcela da população que só cresce — e que ocupa um espaço cada vez mais relevante na sociedade.
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